Do Rap ao Futebol: o grito da cultura popular brasileira

Do Rap ao Futebol: o grito da cultura popular brasileira

“Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda…

“Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura,” disse Herbert José de Sousa, o Betinho, sociólogo e ativista dos direitos humanos. Falar na cultura brasileira é falar de um país de dimensões continentais em tamanho, diferenças, riquezas linguísticas, folclore, arte e tantos outros pontos. E é também falar sobre uma terra onde o gingado, o “jeito brasileiro”, se funde especialmente com futebol e música.

O futebol chegou no país no final do século XIX por intermédio de Charles Miller, que veio da Inglaterra aproximadamente em 1894 e em solo verde e amarelo criou raiz. Quase dois séculos depois, é o esporte favorito dos brasileiros e, segundo um infográfico apresentado pelo blog da ExpressVPN, é também o esporte mais assistido online em nosso país, dado que não surpreende. O futebol se consolidou em solo nacional e passou a ser uma das nossas maiores marcas.

“Aí em determinado momento ‘os preto’ começou a fazer Rap. Nem eu sei como chegou…” (Mano Brown)

Já o rap, de origem jamaicana, se popularizou no Bronx na década de 60. Porém, apenas na década de 70 o estilo se espalhou pelas ruas de Nova York. No Brasil, sua propagação começou em São Paulo em meados da década de 80 e, de forma similar a NY, caiu nas graças do povo uma década mais tarde. Era a cereja do bolo para o futebol.

Dança do corpo, da voz e dos pés

A comunhão do rap e do futebol é interessante por diversos motivos, possivelmente há muito discutidos. Contudo, um ponto que merece destaque é o fato de que ambos não começaram a partir do mesmo lugar de fala.

Durante o período da Primeira República, a elite carioca tentou restringir a prática do futebol por meio de altas mensalidades para a afiliação aos clubes da época, como narrado na obra clássica de Mario Filho, O Negro no Futebol Brasileiro.

Contudo, nem isso, e nem mesmo a ação da Liga Metropolitana (criada para organizar os jogos) de institucionalizar em 1905 que fossem aceitos apenas jogadores brancos em seus campeonatos, impediu que o futebol se tornasse uma paixão popular. Enquanto isso, o rap surge como uma manifestação das injustiças sociais, a qual é complementada pelo futebol. Do público aos jogadores, com maioria de origem humilde, o futebol encontra no rap sua outra metade.

Felizmente, o esporte faz questão de reafirmar essa ligação constantemente. O Flamengo, por exemplo, comemorou sua vitória na Libertadores em outubro com uma festa privada com show de rap. “Muita paz, amor e RAP”, afirmou Gabigol, destaque nas partidas. Também recentemente, a 53ª edição do prêmio ESPN Bola de Prata Sportingbet, que homenageou os melhores jogadores do futebol brasileiro, focou na valorização da nossa cultura e trouxe ao palco nomes de peso do rap e funk nacional, como MC Hariel, DJ Mag, MC Soffia e outros.

Desse modo, é importante que a sociedade olhe para a força trazida pela união do rap e do futebol. Combinados, eles oferecem um movimento tridimensional: o da dança através da música, o dos pés ao chutar a bola, e o social ao impulsionar a crítica e a mudança. Essa combinação funciona como uma manifestação que alimenta a cultura brasileira, uma vez que a cultura é a síntese que vem do povo, um elemento vivo e uma força imensurável.