Foto: Izabela Laurico | Lucas Mota (@_izabelalaurico| @lucasmota_c)

Djonga anuncia turnê nacional com novo show performático do álbum “Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto”

Djonga disponibiliza nesta segunda, dia 2, às 18h um trecho exclusivo do show de lançamento…

Djonga disponibiliza nesta segunda, dia 2, às 18h um trecho exclusivo do show de lançamento do álbum Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto. O BeFly Hall, em Belo Horizonte, recebeu no último dia 23 o novo espetáculo do artista. Um trabalho amplo que vai além da música: é performance, é imagem, é celebração, é diversidade, é resistência. Djonga transforma o palco num grande ritual de afirmação da arte mineira, da arte preta, da arte que nasce na periferia e se espalha pelo mundo.

O trecho de 10 minutos disponibilizado no canal do YouTube do artista contempla a performance das faixas FOME e REAL DEMAIS, escolhidas pelo artista para mostrar aos fãs de todo o país a emocionante viagem sensorial que os aguarda nos shows da turnê que percorre o país nos próximos meses.

A musicalidade mineira é a espinha dorsal do espetáculo. Um coral acompanha Djonga em momentos-chave do show, costurando canto, sentimento e memória. Os metais – sopros que surgem como gritos e respiros – carregam a força dessa linguagem. Tudo se soma.

No coração desse espetáculo, está Exu. É com ele que tudo começa: o encontro entre Gustavo e Exu acontece na encruzilhada, esse lugar de escolha, de passagem, de transformação. Exu se manifesta em dois corpos: o humano, representado pelo ator e bailarino Haroldo, e o animal, representado pelo Galo Preto. Juntos, eles abrem os caminhos.

Na primeira música, FOME, Exu chega para coroar Djonga. Mas a coroa que coloca sobre ele não é nenhuma, é uma coroa feita de olhos. Olhos que veem passado, presente e futuro. Olhos que lembram a Djonga que ele carrega uma linhagem, uma missão, mas também a responsabilidade de enxergar com clareza o seu caminho.

Haroldo, com seus 66 anos, traz uma das performances mais marcantes do show. Ele não interpreta apenas Exu, ele encarna Esu em todas as suas formas. Porque Esu está em tudo: não é humano e não animal, não tem sangue, está nas emoções, nas contradições do mundo. E Haroldo, com seu corpo e sua presença, traduz tudo isso. Ele caminha com a fumaça, com a força, com o silêncio e com o grito. É Exu que abre os caminhos e continua presente até o fim, quando retorna para comer a oferenda, afirmando que a fome ainda existe. Não a fome da escassez, mas a fome de movimento, de continuidade, de transformação.

Em “Real Demais”, Djonga chama para o centro do palco a potência de Iara Fernandes/Amerikana, mulher trans negra, referência da cena Vogue e Ballroom de BH. Ela atravessa a música com seu corpo e sua presença, trazendo uma leitura que une dança, resistência e história. Uma história que fala de negritude, mas que também é pessoal é o corre de alguém que, mesmo sendo gigante, ainda precisa abrir caminho todos os dias.

Cada música carrega uma intenção cênica, um gesto, uma imagem que fala além da letra. Por isso, o palco se transforma: não é apenas musical, é teatral. É como se Djonga encenasse seu próprio discurso ao lado de quem compartilha dele.

As transições entre músicas, os silêncios, os vídeos, os corpos em cena… tudo é pensado como dramaturgia. O show ganha contornos de peça, com atos, clímax e desfechos. Dentro desse teatro expandido, a crítica se intensifica: se projeta nas imagens, nas sombras, nas sobreposições, nas composições entre os telões e o movimento dos corpos.