A iniciativa seleciona trabalhos para mostra de cinema e espetáculos de teatro e dança.

Seguem abertas até o dia 16 de junho as inscrições para o chamado público do Festival Trilha da Inclusão, que seleciona artistas com deficiência para compor a programação multicultural de sua próxima edição, em Brasília. Criada com o propósito de ampliar o acesso à vida cultural da cidade, a iniciativa promove apresentações de teatro e dança, mostras de cinema, além de curiosidades, reunindo diversas produções protagonizadas por pessoas com deficiência.

Artistas interessados em participar podem fazer a inscrição pelo link .

A próxima edição do Festival está prevista para acontecer entre julho e agosto de 2025, com uma extensa programação gratuita e livre para todas as idades, no Espaço Cultural Renato Russo, localizado na 508 Sul. A segunda edição do projeto contará com espetáculos acessíveis, exibição de cinema com recursos de audiodescrição, interpretação em Libras e legendas para surdos e ensurdecidos (LSE), além de oficinas formativas.

O projeto é realizado pelo Guia Acessibilidade Inclusiva, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do DF (SECEC DF). A programação completa pode ser acompanhada, em breve, no perfil oficial, @trilha.dainclusao .

“Nesta edição, o festival pretende ampliar seu impacto social por meio de parcerias com escolas de ensino especial e iniciativas distintas ao público neurodivergente, com isso, reforçamos a importância de políticas públicas e ações contínuas para a democratização da arte e da cultura”, destaca a diretora do Guia, Cássia Lemes.

Remuneração para artistas selecionados

A edição de 2025 prevê uma seleção de oito projetos artísticos, com remunerações definidas conforme a categoria. Serão contempladas três propostas de espetáculos de teatro e/ou dança, com cachê de R$ 3 mil por apresentação; quatro curtas-metragens produzidas por pessoas surdas, com cache de R$ 1 mil cada; e uma exposição de artes plásticas, com valor total de R$ 10 mil. O investimento total previsto para os artistas selecionados é de R$ 23 mil. Com inscrições até 16 de junho, o resultado dos selecionados será divulgado na página do projeto.

Impacto social

Para Rafael Odrus, considerado o primeiro grafiteiro surdo do Brasil, a participação no festival significou uma oportunidade rara: ser visto e compreendido de forma integral. “Foi uma chance de levar minha essência e minha verdade a todos os públicos”, afirma.

Com trabalhos já exibidos em países como França, Canadá e África do Sul, Odrus aponta que a falta de acessibilidade linguística e informacional ainda é um dos principais entraves para a atuação de artistas surdos. “O português é uma grande barreira. O acesso à Libras quase sempre é esporádico, e muitos projetos ainda não têm estrutura real de inclusão”, comenta o artista que participou da primeira edição do projeto.

Para além do reconhecimento artístico, a Trilha também se mostrou um ponto de inflexão no modo como a sociedade enxerga o lugar da deficiência na arte. A dançarina Catherine Zilá, do Grupo Pele, destaca que o festival rompe com a lógica de que a acessibilidade se resume à adaptação.

“As pessoas com deficiência estão no palco, estão produzindo, criando, executando. Isso muda tudo. Não é mais sobre falar por elas, e sim com elas. Ou melhor, é deixar-las falar”, comenta.

O grupo de Catherine desenvolve o projeto “Além da Pele”, que trabalha com dança contemporânea e acrobacias externas para pessoas com síndrome de Down. Para ela, iniciativas como a Trilha da Inclusão são direcionadas diretamente para a formação de placas mais conscientes e para a valorização de diferentes corpos e linguagens na cena artística. “A diversidade está aí, mas a gente insiste em construir um mundo que exclua. Projetos como esse mostrar que é possível e necessário fazer diferente.”

Serviço – Trilha da Inclusão

Data: julho e agosto de 2025
Local: Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul)

Foto Créditos: Nina Quintana