“Vou Pelos Becos” é uma composição especial na vida de James Bantu, ela era tocada apenas nas apresentações e shows realizados nas periferias de São Paulo.

“Vou Pelos Becos” música de James Bantu ganha clipe no Festival Pangeia

O hip-hop melódico referência das periferias de São Paulo, teve o clipe gravado na Vila Missionária, zona sul.

O single “Vou Pelos Becos” é uma composição especial na vida de James Bantu, ela era tocada apenas nas apresentações e shows realizados nas periferias de São Paulo.

A música composta quando ainda morava com sua mãe é inspirada em suas observações das pessoas que transitavam pelos becos que via da janela de seu quarto. Agora, essa realidade periférica ganha um registro poderoso e pode ser vista no Brasil e no mundo. O videoclipe, que faz parte da reta final da 3ª Edição do Festival Cultural Pangeia, com o tema “Conexão Américas e África”, está disponível no YouTube do evento, com acesso gratuito.

Assista o videoclipe:

O videoclipe mostra a rotina das pessoas comuns que atravessam os becos da cidade, em busca de seus objetivos, além de traçar uma linha refletindo os “caminhos” escolhidos e os encontros, as relações interlaçadas entre os moradores das quebradas e o próprio local onde vivem, estabelecendo raízes, fazendo referência a um conhecimento ou até mesmo “reconhecimento” ligado a ancestralidade.

Com voz suave e um hip-hop melódico, Bantu retrata em suas letras a realidade da periferia com críticas sociais que chegam aos ouvidos de forma arrebatadora e reflexiva. Como diz um trecho da música: “Vou pelos becos se pá desapareço, vou pelos becos se pá não tenho medo”. “Fiz a música inspirado em minha experiência enquanto jovem preto periférico, que habita em um território tido como marginal. Cresci sabendo que vidas pretas moram e sobrevivem nesses espaços que formam encruzilhadas, que cruzam nosso cotidiano e são lidos ou retratados como laboratórios de pesquisas acadêmicas. Ver as pessoas que passam por esses becos, trabalhando nessa construção mexeu comigo. É a concretização que eu imaginava”, conta James emocionado.

Por que gravar o videoclipe

O festival planejou contar uma história, que simbolizasse o propósito desta edição, no formato audiovisual em seu encerramento. A música e a vida do artista se assemelham com a conexão entre povos pretos e periféricos que sofrem as desigualdades sociais no dia a dia e que usam de sua arte como forma de resistência. “Andar pelos becos daqui e gravar dentro do nosso próprio bairro, movimentando e fomentando a quebrada me fez ressignificar essa experiência. Foi um presente!” conta Pri Magalhães, integrante do coletivo MisturArte e diretora do videoclipe.

Koji Freemind, diretor de fotografia e finalização conta como foi a experiência de trabalhar pela primeira vez com James Bantu e rodar o seu primeiro videoclipe do gênero. “Fiquei impressionado pela autenticidade e a mensagem da música dele, que vai de encontro com o que acredito que seja necessário para se viver numa sociedade igualitária e mais justa”. Um ponto que Koji destaca é o cuidado técnico usado na produção do filme. “Usamos equipamentos que não são comuns para projetos de baixo orçamento, chamados de guerrilha, isso deixou o videoclipe com uma qualidade visual de cinema. O resultado me deixou orgulhoso e com vontade de realizar novos trabalhos com o James e o pessoal do Festival Pangeia”.

Mostrar essa realidade para além dos muros e revelar um pouco, do dia a dia dos próprios integrantes do coletivo MisturArte, foi um dos motivos que levou a equipe do projeto a gravar na Vila Missionária. “Desde o início foi um grande desafio repensar e adaptar o projeto a nova realidade com a pandemia da Covid-19, para a produção do videoclipe não foi diferente, mas tomamos todos os cuidados necessários para que tudo corresse bem. O trabalho desenvolvido em rede ficou ainda mais evidente quando contamos com uma equipe parceira e atores, em grande maioria, moradores de bairros da Cidade Ademar. Foi um ponto muito importante no processo e foi a forma que encontramos de fomentar o trabalho de artistas e produtores da periferia, nesse momento tão delicado em que vivemos”, conta Pauliana Reis, diretora do Festival e Platô do filme.