Rashid - Foto Divulgação

Rashid registra ciclos de ensinamentos com novas sonoridades em PORTAL, seu quinto disco de estúdio

Como uma carta aberta para o público, o disco registra os portais atravessados pelo artista…

Como uma carta aberta para o público, o disco registra os portais atravessados pelo artista ao longo de sua trajetória – e traz as participações plurais da música brasileira, como Lenine, Péricles, Melly e Lagum

Entre o sentido literal e figurado da palavra, Rashid nomeia seu quinto álbum de estúdio: PORTAL, que registra todos os pilares que o figuram como uma das vozes centrais do rap nacional. O novo projeto do rapper, letrista, pensador e multiartista paulistano marca vários dos portais que o atravessaram ao longo dos últimos anos, seja com a paternidade ou pelos relacionamentos consigo mesmo ou com o outro, por exemplo. Ao longo de 9 faixas, com participações de Lenine, Péricles, Melly e Lagum, o disco inaugura um novo olhar de Rashid direcionado a si mesmo, enquanto indivíduo despido de qualquer amarra. PORTAL sucede o lançamento do single “Cairo” e chega às plataformas de streaming acompanhado de visualizers em seu canal do YouTube.

Em contraponto ao reverenciado álbum-áudio-filme Movimento Rápido dos Olhos (2022), que narra uma cruzada épica em busca da transformação coletiva, o novo ângulo artístico conceituado por Rashid dá enfoque ao indivíduo. “Um portal é atravessado toda vez que vivenciamos uma situação limite, seja este um grande amor, uma grande decepção, uma conquista, uma derrota, o luto ou uma epifania. A vida está cheia de portais pelos quais teremos de cruzar sozinhos, já que a grande jornada da existência é, acima de tudo, individual”, explica o cantor. O primeiro contorno do disco foi apresentado em julho com o lançamento de “CAIRO” (confira o videoclipe aqui), canção que celebra o maior e mais importante PORTAL atravessado por Rashid, a paternidade. A faixa é nomeada a partir do primeiro filho do artista, que ainda marca presença ao longo do projeto em curtas pílulas de afeto que transacionam as canções, ao mesmo tempo que dão um respiro para as temáticas densas que o disco discute.

O lançamento leva o artista e seu rap para novas sonoridades, enquanto reúne participações que exemplificam a pluralidade do disco. PORTAL faz ode à música brasileira e alinha Rashid em sua busca por um rap que soe como um som genuinamente feito no Brasil, não de forma mimética mas como fruto de novos estudos, referências, texturas de som e experimentos. Logo na terceira faixa da tracklist, o primeiro feat é apresentado em “LEVANTE”, uma canção sobre o encontro com a espiritualidade criada ao lado da cantora baiana Melly – aposta da nova geração do R&B brasileiro. A voz marcante e atemporal do pernambucano Lenine intercala as rimas afiadas de Rashid em “DEPOIS DO DEPOIS”, a sexta canção, que aborda a dor do afastamento entre grandes amigos. Na sequência, vem a parceria com os mineiros da banda Lagum na lovesong “SEM NORTE”, que trata das mudanças vivenciadas com a descoberta de um grande amor. A letra dá spoiler da última participação do disco, o ‘Rei da voz do Brasil’ e um dos principais nomes do pagode, Péricles, que marca presença na oitava música, “UM TOM DE AZUL” – um blues/soul abrasileirado cujo título faz referência direta ao álbum Kind of Blue (1959), do ícone do jazz Miles Davis, versando sobre a dualidade da relação com o dinheiro em meio a ascensão social.

A faixa-título que abre o álbum, “PORTAL”, batiza todo o projeto ao sintetizar o seu conceito macro. “Logo nas primeiras linhas da canção, a gente já se depara com a intensidade e profundidade das emoções que convido o público a visitar”, conta Rashid. Com forte referência a Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento, a canção reafirma a principal reflexão do disco, de que “a maioria das portas que a vida abre a gente precisa atravessar sozinho”. O mergulho nas camadas dessa discussão é registrado também em “CASTELOS DE PAPEL”, quarta canção do álbum, que dá indícios sobre a temática de relacionamentos quando, na verdade, é direcionada à indústria musical.

Guiando a segunda metade do álbum, “FRUSTRAÇÃO” é a composição mais antiga, criada em 2018 inicialmente como um trap, mas que aqui ganha uma nova roupagem, em que a letra passa a ser acompanhada por um arranjo de piano e um quarteto de cordas. “Acredito que esta música tenha um cunho terapêutico bem forte, é uma conversa aberta sobre as nossas emoções. A faixa sugere aquele momento em que você se sente preso num ciclo de tristeza, e no final da música o eu lírico se transforma e você passa a ver as coisas por uma nova perspectiva, a partir do ponto de vista da própria frustração”, reflete Rashid. A tracklist de PORTAL é então amarrada em “OLHA QUEM VOLTOU”, que encerra o projeto abordando a temática do reencontro e suas transformações, tanto sob a ótica de quem aguarda alguém querido, quanto pela de alguém que retorna. A canção também retoma uma conversa iniciada na primeira faixa do disco, agora, com a percepção de se enxergar como a própria casa: “Em ‘PORTAL’ eu começo falando sobre o momento de saída da casa de minha mãe, para agora versar sobre este retorno, um retorno para mim mesmo”, reflete o cantor. A mudança nesta compreensão de “lar”, na verdade, exemplifica o desfecho após atravessar tantos portais, como finaliza Rashid: “Eu sinto que trabalhei a vida inteira para fazer estas músicas, este é meu encontro comigo mesmo”.

Ouça PORTAL aqui 

TRACKLIST

1. “PORTAL”

2. “CAIRO”

3. “LEVANTE” (part. Melly)

4. “CASTELOS DE PAPEL”

5. “FRUSTRAÇÃO”

6. “DEPOIS DO DEPOIS” (part. Lenine)

7. “SEM NORTE” (part. Lagum)

8. “UM TOM DE AZUL” (part. Péricles)

9. “OLHA QUEM VOLTOU”

Letras:

  • PORTAL

Não adianta, só você pode pisar os seus passos

Só você pode caminhar o seu caminho

E pouco importa quanta gente esteja ao seu redor

A maioria das portas que essa vida abre você vai precisar atravessar sozinho

Mãe, desculpa por sair de casa cedo

O pé na estrada e eu mal tinha largado os brinquedo

… Atrás de uma porta aberta

Antes dono de uma vida torta do que vê-la numa loja em oferta

Cheio de medo e sem a senha

Olha, queimando sola pra chegar em algo melhor

E a cinza que tá ali terá valido a lenha

Se por aí acendeu a luz de algum menor

E eu ainda era menor sim, dói no peito meus irmão eram menorzin

O sacrifício que eu fiz era enorme, na pista dando o sangue enquanto os outros dormem

Filho da dona do vento,

E meu pai um caçador atento, bora que eu fui acostumado no relento

Nego o lamento e seu regulamento

Preciso da glória como os professor precisam de um aumento

Tudo muda, tudo flui

Nada será como foi

A vida é um verso e tem seu flow

O que há em volta o tempo fez

Desculpa por as vez parecer longe mesmo estando perto

Ainda sou novo nessa coisa de afeto

E compartilhar o andor sob o mesmo teto

Por muito o peito só ouvia outro dialeto

É que em matéria de amor era analfabeto

Resolvia tudo na base do deixa quieto

E a gente nunca força quem nos faça completo

O abraço só é casa quando o laço é concreto

Igual 3 sombras quero proteger meu filho

Desse mundo que é um dragão de dentes afiados

Seu hálito exala o hábito de devorar sonhos

Com cheiro de planos não concretizados

Eu prefiro o nosso lado, batizados, aniversários, celebração e mesa farta

E no dia que apagarem até essa chama

Ai só nos sobrarão as cinzas de quarta (e eu to ligado que)

Tudo muda, tudo flui

Nada será como foi

A vida é um verso e tem seu flow

O que há em volta o tempo fez

 

  • CAIRO

Uma cidade inteira tem seu nome

A luz que me desperta logo cedo,

Quero sua risada no meu fone

Minha casa tá cheia de brinquedo

E quando eu soube que você ia chegar,

Eu mal sabia do que devia saber

Guardei segredo mas eu queria gritar

Armar uma grande festa pra te receber

Imaginei a gente domingo no parque

Cê bagunçando todos discos do papai

Viver uma aventura num rolê de bike

Eu te contando histórias sobre um samurai

Num vou te deixar se sentir sozinho

Vambora desbravar o desconhecido

Passei por tanta coisa no caminho

E só agora tudo faz sentido

Com você nos braços eu nem conto passos e reforço laços

Me aventuro pela luz de uma estrela, vou parar no espaço

Eu imito bicho, falo num cochicho, som de carro eu faço

E quem diria agora eu sou papai…

E quem diria agora eu sou

Uma cidade inteira tem seu nome,

Sua mãozinha segura meu dedo

Faz a vida parecer enorme

E todo medo parecer pequeno mesmo

Um vento ameno, o peito pleno

Um colinho sereno, assim tá sempre bom

Na mó loucura tava terminando um disco

E mais ansioso pelo próximo ultrassom

E na primeira vez que ouvi seu coração

Com os olhos cheios d’água, uma reviravolta

Sua mãe me olhando assim com o maior sorrisão

Senti que ali peguei a minha fé de volta

Não vou te deixar se sentir sozinho

Porque sei que não é boa a sensação

E sempre que assustador for o caminho

Não esquece, pode pegar na minha mão

Com você nos braços eu nem conto passos e reforço laços

Me aventuro pela luz de uma estrela, vou parar no espaço

Eu imito bicho, falo num cochicho, som de carro eu faço

E quem diria agora eu sou papai…

E quem diria agora eu sou

 

  • LEVANTE (part. Melly)

Hey, um banho de ervas tomei, pedindo pra me proteger

Buscando uma força que só você pode ter

Abrindo caminhos pro meu destino, eu sei

Chamei, chamei, chamei

Uma amiga do axé me trouxe uma luz

Num ponto em que a escuridão era um capuz

E até meu teto de vidro tava em cacos

Eu pedia pro pai lá de cima

Que baila no firmamento azul piscina

Me dê o talento dos mandacarus

A tempo dê a doçura da cajuína

E me tire do cardápio dos urubus

Vou pra rua com sol de mais de 30,

No corre do ouro pro meu pote

Num é a paisagem mais bonita,

Eu vivi não só vi do camarote

Hoje viro esse plot, irmão, o azarão que voou como pássaro

… Pronto para as tormentas que passarão,

Vida nova me chame de Lázaro

Hey, um banho de ervas tomei, pedindo pra me proteger

Buscando uma força que só você pode ter

Abrindo caminhos pro meu destino, eu sei

Chamei, chamei, chamei

À noite no silêncio, um breu extenso, meus joelhos no chão e um mantra denso

Mar à dentro, onde a dor concentra o senso e o pranto pesa, não há mão que aguente o lenço

Segredos são ilusões, quebrantado me assumo culpado

E como filho recém chegado, choro porque preciso ser cuidado

Quantas vezes no fundo do buzo, confuso,

Me sentindo intruso no meu próprio lar

Excluso do seio que acolhe

Deduzo talvez já não role ter pra onde voltar

Se a vida é em frente, me dá caminho!

Então cruzo os portões são e salvo

… E que eu seja a flecha do caçador

Só pare ao alcançar meu alvo

Hey, um banho de ervas tomei, pedindo pra me proteger

Buscando uma força que só você pode ter

Abrindo caminhos pro meu destino, eu sei

Chamei, chamei, chamei

Acordei hoje cedo pensando em encontrar razão

Encontrar razão, um ponto no chão em que eu visse um espelho

Um portal, olhando pro céu esperando um sinal

Um portal

Acordei hoje cedo pensando em encontrar razão

Encontrar razão, um ponto no chão em que eu visse um espelho

Um portal, olhando pro céu esperando um sinal

Um portal

 

  • CASTELOS DE PAPEL

Quem não quer um amor assim, pra tá junto onde for?

Que embeleza o seu jardim, faz ressuscitar a flor

Não me preparei pro fim e ele veio igual trator

Como um filme de terror, tirou meu sossego e tudo mais

Você me prometeu o céu

Mas no fim me deixou no chão

Me vendeu castelos de papel

Me fez comer na sua mão

Você jurou, você jurou que a gente tinha algo diferente

Você jurou, você jurou e eu acreditei de inocente

Você jurou, você jurou que aquele nosso fogo era pra sempre

Você jurou, você jurou e eu acreditei de inocente

Você jurou que a gente junto era golaço

… Um laço que firma o passo tal cadarço

… Mas o trem passa e o que tem graça fica escasso

E acaba triste igual o final de Um Maluco no Pedaço

Eu que nem bebo quero abrir uma garrafa

Pra ver se me safa da bad ou ao menos abafa

Com o orgulho ferido a dias

Pior parte de ser iludido é assumir que no fundo a gente sabia

… Todas conversas e fotos eu apaguei na terça

Só num inventaram como deleta a EX da minha cabeça

A vida prega peça e eu fui otário nessa

Acabou sem boa sorte feito aquela da Vanessa

… Porque brincou de fazer planos comigo?

Num caô fez parecer que ia passar anos comigo

Meu travesseiro é testemunha do quanto eu sonhei com isso

Só num enxerguei que tava dormindo com o inimigo

Você me prometeu o céu

Mas no fim me deixou no chão

Me vendeu castelos de papel

Me fez comer na sua mão

Você jurou, você jurou que a gente tinha algo diferente

Você jurou, você jurou e eu acreditei de inocente

Você jurou, você jurou que aquele nosso fogo era pra sempre

Você jurou, você jurou e eu acreditei de inocente

Me afastei de todo mundo por sua causa

E pus parte da vida em pausa, eu tava nessa relação sozinho

E o que eu fui no seu caminho?

Um acidente numa curva de onde cê fugiu quando a foda virou carinho?

… Nunca te cobrei demais, respeitei seu espaço

Pra evitar o infortúnio, sim, soturno

Mas no final esse espaço era tão grande

Que no nosso próprio universo viramos Mercúrio e Saturno

Ligações perdidas… ainda num tô convencido

Fui rebaixado ao nível de conhecido

Agora sei porque os cara do sertanejo escreve aqueles verso tão doído

Cê é mesmo um anjo… só que o caído

Soube de histórias mais antigas de quem se envolveu contigo

Mas num dei ouvido e trombei o castigo

Seu olhar é o oceano e seu corpo é quente como a praia num domingo

… Só esqueceram a placa de PERIGO!

Você me prometeu o céu

Mas no fim me deixou no chão

Me vendeu castelos de papel

Me fez comer na sua mão

Você jurou, você jurou que a gente tinha algo diferente

Você jurou, você jurou e eu acreditei de inocente

Você jurou, você jurou que aquele nosso fogo era pra sempre

Você jurou, você jurou e eu acreditei de inocente

Quem não quer um amor assim, pra tá junto onde for?

Que embeleza o seu jardim, faz ressuscitar a flor

Não me preparei pro fim e ele veio igual trator

Como um filme de terror, tirou meu sossego…

 

  • FRUSTRAÇÃO

Frustração, um mar que sorri ao te afogar

Te gruda em frente a televisão

Te faz criar raízes no sofá…

Num quero sair, eu não quero ficar

Num quero ver ninguém, num quero encheção

Na real, num quero tá em nenhum lugar

Porque ninguém sabe o que é lidar com a pressão

Sempre obrigado a acertar,

me sentindo na caverna de Platão

Onde geral não quer enxergar,

Será que é realmente um dom ter a visão?

Cada mais difícil se concentrar

Toda vez que eu caio já não vejo a lição

Vida, arrume um novo jeito de ensinar

To de saco cheio disso de superação

Num ‘guento mais correr, correr e não chegar

Parece só comigo, uma perseguição

Procuro mais do que palavras pra rimar

Quero encontrar força pra vencer a…

Frustração, um mar que sorri ao te afogar

Te gruda em frente a televisão

Te faz criar raízes no sofá…

Pior sentimento, é chuva com vento do lado de dentro

É um processo louco de um barato lento

É a fome do rebento

É sua bateria ali nos 10 porcento

Quando falta força e sobra descontentamento

Derrota a frente, nem arrisco o enfrentamento

Dedicação, você chegou no vencimento

Dói uma eternidade mesmo que por um momento…

Frustração

Entro pela porta da frente da sala, mergulho no copo, misturo com gelo

Me trague junto ao cigarro nos dedo, me agarro nos medo, me enrolo sou tipo um novelo

Repouso no colo do seu pesadelo, degolo seu bem por inteiro

Te trolo, te exponho, te isolo, trituro seu sonho, me escondo no seu travesseiro

… E eu quero viver bem assim, nós dois, meu desejo é ter você pra mim

Sem algoz pois sou sua droga, seu craque, te tiro a noção do tempo tic-tac

Nossa relação vai de estação em estação, tipo o verão, tipo lotação,

Consumo seus dias sem exceção, sensação, até ver você ceder à pressão…

 

  • DEPOIS DO DEPOIS (part. Lenine)

A gente costumava voar junto, o espaço e o astronauta

E ninguém separava, o Samba e o Exalta

Agora já nem sei qual é a pauta

Sei que se amizade fosse um curso, os dois reprovava por falta

E eu sinto sua falta, tipo a página em branco aguardando o traço

Tipo o mais loko flow fora do compasso,

O atacante depois do gol sem ninguém pro abraço

Sei que a vida tem seus próprios caminhos mas a gente tinha combinado

Seguir lado a lado e eu tava afim mesmo

Num aceito desculpas tipo “a vida é assim mesmo”

Promessas que quebrei pra ti, quebrei pra mim mesmo

Podia ter ligado e isso serve pros dois

Mas são coisas que deixamos pra depois e depois e depois…

Humanos ignorantes

Depois do depois a gente se arrepende por não ter ligado antes

… Onde você vai sozinho assim?

Sem rumo, sem volta, sem a minha companhia e sem tino

Onde você vai sozinho assim?

Me chama que eu vou

E talvez a gente ache um destino

Direto alguém pergunta de você, o quê que eu vou dizer?

Fico sem graça por não ter o que responder

Boto a culpa no trampo, falo do bebê

Dos astros, do trânsito e sei lá mais do quê

Sem saber que é indiferente

As desculpas que damos pros outros ou as que inventamos pra gente

Quando a verdade grita a fratura exposta

O olhar perdido gabarita todas as respostas

E só quem passou tempo sozinho demais

Sabe exatamente a falta que um amigo faz

Trocar uma palavra traz um bem e tanto

E eu preciso de tantas palavras, meu dicionário veio em branco

… Pra resolver era um, dois

Mas são coisas que deixamos pra depois e depois e depois

Humanos ignorantes

Depois do depois a gente sofre por não ter resolvido antes

… Onde você vai sozinho assim?

Sem rumo, sem volta, sem a minha companhia e sem tino

Onde você vai sozinho assim?

Me chama que eu vou

E talvez a gente ache um destino

O que vem depois do depois

É mistério, é deserto, é maré

É distância que ninguém transpôs 

É mergulho onde nunca deu pé

O que vem depois do depois

É o incerto, é o além e o até

Melodia que ninguém compôs

E uma venda para São Tomé

 

  • SEM NORTE (part. Lagum)

Se eu encontrei você eu devo ser um cara de sorte

Você me encontrou quando eu tava sem norte

Minha mente vai longe, eu preciso ser forte

Bom te ter por perto, peço pra que não me solte mais…

Yê, yê, yê, yê, yê… sempre que eu me perco, eu me encontro em você

Yê, yê, yê, yê, yê… sempre que eu me perco… eu me encontro em você

Numa avenida por aí, eu perdido

Olhar sem direção indo em qualquer sentido

Coração ressentido e é minha a culpa

A relação só é destino certo se for via de mão dupla

E cê num faz ideia dos desertos que cruzei

Em quantos lances apostei e não ganhei

Se pá o que faltava era um olhar como o seu

Que dá força pra encarar qualquer um no Coliseu

… Quando os dias por aqui eram tão duros

Você foi minha fresta pra ver luz no meu futuro

A festa no meu peito, samba no meu barracão

Num teve jeito, tô achando que é amor que nem o Péricão

Num sei não… acho que nós dois vira canção

Num sei não… Daquelas que estouram no verão

… Tenho grandes sonhos pra alcançar um dia

E o trajeto é longo, me faltava uma boa companhia

Se eu encontrei você eu devo ser um cara de sorte

Você me encontrou quando eu tava sem norte

Minha mente vai longe, eu preciso ser forte

Bom te ter por perto, peço pra que não me solte mais…

Yê, yê, yê, yê, yê… sempre que eu me perco, eu me encontro em você

Yê, yê, yê, yê, yê… sempre que eu me perco… eu me encontro em você

Conto os dias, conto as horas, conto os passos pra chegar

Quantas vezes eu tentei, quanto solo pra andar

Quanta falta faz um colo pra deitar, inclusive

Quanta gente vai poder contar com a sorte que eu tive

De achar, alguém pra pilotar comigo essa nave

Abram-se fechaduras, nosso lance é chave

… Depois de tanto chute na trave, num vale

Se nosso santo bateu mais do que o grave no baile

(Suave) Hoje dispenso os conselho amoroso do Hitch

Num é reality, mas cê chegou eu já tava no limite

Vem pra mudar o clima

O sol da manhã no seu rosto atualiza as definições de obra prima

… Sou um cara sortudo

Mente aberta pra aprender, ninguém alguém aqui sabe tudo

O que sei é que quero você por perto

E nem me lembro quando essa vida eu me senti tão certo

Se eu encontrei você eu devo ser um cara de sorte

Você me encontrou quando eu tava sem norte

Minha mente vai longe, eu preciso ser forte

Bom te ter por perto, peço pra que não me solte mais…

Yê, yê, yê, yê, yê… sempre que eu me perco, eu me encontro em você

Yê, yê, yê, yê, yê… sempre que eu me perco… eu me encontro em você

 

  • UM TOM DE AZUL (part. Péricles)

Eu fiz uma promessa, de mãos vazias eu não posso voltar, não

Pai ouça minha prece, porque demônios tem visitado meu endereço (e eu não mereço)

Mal me reconheço quando olho no espelho,

Mas existe algo nesses olhos vermelhos

Que nenhum pilantra foi capaz de tirar

Mal me reconheço quando olho no espelho,

Mas existe algo nesses olhos vermelhos

Que nenhum covarde foi capaz de tirar

Hey hey hey

Só num quer melhora quem nasceu melhor

Quem num viu embora toda chance afora ao seu redor

Quando apavora o ser humano aflora o seu pior

E Deus cantarola triste um blues que chora em tom menor

Escuta! Quando a grana é curta e a ausência enorme

A existência vira penitência, faz do crucifixo o uniforme

Cansei de tá na loja e vê soar o alarme

No ódio jurei calar esses boca de coliforme

Depois de noites acordado e dias sonolentos

A volta pra lar cansado, castelando monumentos

Planejando o sustento de uma vida sem confete

Pra apostar tudo na rua, chamo de esquinaBET

O dobro ou nada na missão mei’ mel, mei’ fel

In loco é na Babel mas o foco é na Torre Eiffel

E comer dos melhores pratos da cidade

Sem dar a mão pra quem acha que eu devia é lavar pratos nessa idade

Trazer de volta o ouro que nos foi roubado

Isso não é apropriação, isso é apropriado

Ó, pai, honra teu filho, livra da decepção

Aquele que anda entre os verme e volta sem infecção

Voo abaixo do radar de quem se forra na lábia

Sem ostentação porque eu não sou pavão, sou águia

E é por vingança às vezes

Demorei pra sair do bairro mas meu filho tirou o passaporte com 6 meses

Eu fiz uma promessa, de mãos vazias eu não posso voltar, não

Pai ouça minha prece, porque demônios tem visitado meu endereço (e eu não mereço)

Mal me reconheço quando olho no espelho,

Mas existe algo nesses olhos vermelhos

Que nenhum pilantra foi capaz de tirar

Mal me reconheço quando olho no espelho,

Mas existe algo nesses olhos vermelhos

Que nenhum covarde foi capaz de tirar

Hey hey hey

Alô, você carregando sua cruz

Eu não sei quanto pesa, não sei quanto custa

Aqui do meu calvário eu tento fazer jus

Ao nosso corre diário pela vida justa

Um alô pra você que tá na sintonia

Real reconhece real na caminhada

E assim como a noite sempre vira dia

É só questão de tempo a sua virada

 

  • OLHA QUEM VOLTOU

 

Sem você a vida nem tava, ó

Fosse outro nem aguentava

Pior que uma ressaca bem brava

Vê uma foto sua era o que me arrebentava

Vira e mexe em vc pensava

Tipo, vez ou outra a deprê reinava

Tipo, olha a chuva, quando vem, lava

Mas se vem forte demais, chega que nem lava

Sua volta é o raio de luz, é o fim da Via Crucis

É o fruto mais doce

Teu abraço é bom quanto eu lembrei que fosse

Me diz que amor é doar, não é posse

Me livra desse armageddon precoce

Que veio no barco dos europeus

Viver é se perder por entre os remorsos

Matar uma saudade é encontrar com Deus

O trem da vida segue em frente

É a certeza que a gente tem

E eu na próxima estação

Na certeza que você vem

Doido pra dizer

Olha quem voltou 

De trás da cortinas pra lá das ruínas do além mar

Olha quem voltou 

E sobre as turbinas cruzou as colinas pra vir

Olha quem voltou 

Só quem viu o azedo do mundo sabe como é doce um lar

Olha quem voltou 

Com um sorriso aberto como só as campinas daqui

Me preparei o mês todo pra te ver, que cena

Fitando o calendário, feito um presidiário no final da sua pena

Ou um náufrago contando os dias na ilha que lhe condena

Tensa novena, penso mereço

O relógio me vendendo o tempo ao dobro do preço

A madruga canta, olho o bebê no berço

E neuroses tantas quanto as contas de um terço

E num chega a data (num chega a hora) nunca chega a era

Da gente dentro do mesmo metro de terra

Pensando em quando essa agonia se encerra

Tortura lenta, eterna sala de espera

Na sincera, quem é o heroi que supera?

A saudade é dor como o poeta dissera

A distância é treta, até o vilão desespera

Certo como esse planeta é uma esfera

O trem da vida segue em frente

É a certeza que a gente tem

E eu na próxima estação

Na certeza que você vem

Doido pra dizer

Olha quem voltou 

De trás da cortinas pra lá das ruínas do além mar

Olha quem voltou 

E sobre as turbinas cruzou as colinas pra vir

Olha quem voltou 

Só quem viu o azedo do mundo sabe como é doce um lar

Olha quem voltou 

Com um sorriso aberto como só as campinas daqui