Uh! Neto - Entrevista

Jornal do Rap entrevista o rapper UH! Neto, Confira!

Uh! Neto lançou a música Oxente 3.3, uma releitura da Oxente (música lançada em 2016),…

Uh! Neto lançou a música Oxente 3.3, uma releitura da Oxente (música lançada em 2016), e a partir de outras percepções e desenhos musicais. O cantor cedeu um pouco do seu tempo para responder algumas perguntas do JDR. Confira o vídeo clipe e mais abaixo a entrevista.

Assista  Oxente 3.3:

1 – De onde veio o seu nome artístico Uh! Neto?

O nome Uh! Neto é uma intuição conectada ao universo. O tom de seu significado se dá pelas desconstruções do ser, vamos dizer que: “o que existe aproxima o sentido de ser Uh!” (risos). Faço parte de dois universos: a Filosofia e o RAP, e por essa junção, compreendo que na vida somos únicos em tudo que faz parte de nossa existência. Somos únicos no que fazemos, pensamos, sentimos, e mesmo sendo únicos, ao mesmo tempo, somos múltiplos. Aí, a letra U vem da palavra grega uno que significa único. E o H vem do Homo de Homo sapiens. O Neto vem de herança familiar, e larguei como forma de reconhecimento ancestral. E complementando a cereja do bolo a exclamação (!) dá o sentido de afirmação do nome Uh! Neto. Por outras palavras, Uh! Neto quer dizer que sou um eterno vir a ser, algo aberto a possibilidades, por isso não sou finalizado, pronto, muito menos definido. Morro e renasço todos os dias, ao acordar não sou o mesmo que vai dormir. Sou um ser que está curiosamente descontruindo para construir, que se envolve para crescer, que aprende para ensinar, e com isso ensina a aprender.

2 – Quanto tempo você tem como cantor?

Musicalmente produzo o canto-falado do RAP desde 2004, então acho que são uns, 16 anos de caminhada. Essa experiência com o RAP no Recôncavo da Bahia tem sido massa, e me apresentou caminhos paralelos também, entre eles, estou sendo: educador, produtor cultural, arte-educador e também professor de filosofia.

3 – Qual foi a experiência do projeto “Oxente 3.3”?

A Oxente 3.3 é um sonho, ela vem ao mundo como um canto que canta um canto que habito (Recôncavo da Bahia). Sou vivente de experiências entre a cidade e a roça, e nesses dois espaços fui formando minha consciência, e sobretudo, minhas formas de viver e ser. Esse trabalho é leitura perceptiva do cotidiano dessa região que é fundamental na construção da Bahia, e pelo seu vasto campo de conexão, interação sociocultural e de amor, demarcar um lugar de resistência. A experiência dessa produção é uma tradução de um pouquinho do que vivenciamos nas bandas de cá do Brasil, e eu, como um bom baiano, fui abençoado por transformar a realidade em arte.

4 – Oxente 3.3 é uma releitura da Oxente, qual foi a motivação para você fazer a releitura?

Isso mesmo, a primeira vez que demos uma previa para o mundo do que estávamos pensando foi a uns 4 anos atrás, e a ideia inicial era apresentar a partir do dialeto “Oxente” que dizer espanto, estranheza, surpresa, a resistência e o amor de povos que sobrevivem em meio as crises sociais e raciais.

Essa versão, traz um tempero mais apurado, acho que a pimenta tá mais forte (risos). Busco ser como griots nos ensinam, pedagógico. E no respeito as palavras e ao que venho sendo, a Oxente 3.3 faz relação a minha idade atual (33 anos), e demonstro que estou me preparando para os corres seguintes, simboliza a maturidade e o que busco cantar, o amor. E além disso, ela transmite a ideia de que o universo conversa conosco pela trilogia, pelo equilíbrio e certeza do que faz parte de cada pessoa. Com isso também, encontrei duas pessoas – Dandara Lopes (que faz minha produção pela Agô Empreende) e Sibele Sudré (que trampa conosco como artista visual pela Coração de Quipá) – que tem juntado forças e sonhado juntos em ações práticas por esse canto-falado do Recôncavo.

5 – Qual foi a mensagem que o videoclipe para da música “Oxente 3.3”?

Essa questão deixarei para Sibele Sudré responder, ela é a responsável por essa obra de arte.

Conhecendo a poética que Uh! Neto transmite em seus trabalhos, com forte representação da cultura do Recôncavo baiano e suas ancestralidades, trazemos a necessidade de valorizar e salientar os saberes e particularidades de algumas dessas cidades, fazendo o caminhar entre Cruz das Almas e Cachoeira, apresentando em uma mistura de elementos de cada lugar, por exemplo o Careta, tradicional das festas de Muritiba, na feira livre de Cruz das Almas. Portanto, é através da Oxente 3.3 que queremos evidenciar essas culturas e fazeres de cada lugar, transmitindo de uma forma alegre como ela realmente é, trazendo a reflexão de como essa união se faz Recôncavo, propagando uma consciência afetiva nessas conexões para valorizarmos o que é nosso, até mesmo a união através do Hip Hop e cultura popular.

6 – Quais artistas você tem como inspirações?

Essa questão é complexa, tem muita gente boa, mas vamos lá (risos). Cabritada, me inspiro muito em Bob Marley, ele traz uma filosofia que conversa comigo. Tem os clássicos do RAP como Tio Bill, Racionais MC’s, Z’Africa Brasil, Stefanie MC, Emicida, Rapadura e o Inquérito. A cabritada daqui do Recôncavo me inspiram e muito, poderia citar todxs numa boa, mas o Ernany RVM, ErriVance, Ras Elias e o PH são especiais. Tem uns cabritos de Salvador que deixam a coisa daquele jeitão: a Simples Rap’ortagem, Igi Emi, Nova Era, Alê Santana, Marcola Bituca, e boa parte da galera que trampa com minha produtora AquaHertz.

7 – Fale um pouco sobre os futuros projetos e novos lançamentos?

Cabritada é o seguinte, além de MC e arte-educador, venho desenvolvendo uma pesquisa sobre a intelectualidade dos/as MCs’ do Recôncavo no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade (PPGEduC), na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Ainda esse ano, Eu e Gean Almeida (cineasta do Coletivo Mart) estaremos lançando um documentário sobre os Encontro de Hip-Hop que realizamos na cidade de Nazaré das Farinhas. Musicalmente estamos preparando alguns trabalhos que tem a intenção de serem lançados ainda esse ano, esses corres estão sendo produzidos individualmente e em parceria com outros/as artistas, vai vim muita coisa boa por aí, botem fé! E, a Oxente 3.3 faz parte de um rolê musical belíssimo, essa canção pede licença para que possamos apresentar algo que estamos criando. Na real, essas experiências com o RAP, no contato com forró, arrocha, pagodão, semba, samba de roda e o repente, tem me contando outras perspectivas de RAP e de música preta, e em 2021 voltaremos a conversar novamente sobre isso, enquanto isso, a Oxente 3.3 vem pra largar o doce temperado com amor e caminho aberto.

É isso, espiem nossos corres de pretx. Paz pra nós e #TemDedodeNegxAí