Mano Brown - Jogando Video Game

Interseção e interação entre rap e videogames cria um novo “palco virtual”

para artistas de todos os gêneros musicais!

Ao longo da existência da sociedade humana como um elemento que começa a alterar o planeta como um todo, existem alguns elementos dos povos antigos e até primitivos que em uma visão generalista, são comuns a quaisquer aglomerações de seres humanos em um mesmo espaço por um período de tempo prolongado. Isto inclui os elementos políticos, sociais e também culturais que nossos ancestrais criaram, cujos elementos sofreram por evoluções para que fossem usados até hoje pelos povos mais modernos.

A evolução dos elementos culturais permitiu que eles começassem também a interagir de forma cada vez mais forte entre si. O mundo das pinturas se unia ao teatro, com pintores ajudando a criar os cenários necessários para a realização de peças teatrais. Tais peças tinham fortes elementos musicais desde a sua forma mais elementar, recitando poemas e versos épicos de grandes artistas da Grécia Antiga e de outros cantos do mundo que traziam uma métrica rítmica que tornava quase impossível o não-desenvolvimento de um musical em torno da criação em questão.

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E com o avanço da tecnologia e a criação de novas formas de expressão artísticas, como novos gêneros musicais e tecnologias que davam aos artistas mais um “palco” em potencial, os “crossovers” culturais continuaram a tomar lugar. Inevitavelmente, o rap e o hip-hop se tornariam vanguarda em algumas destas interações, principalmente envolvendo uma das novas plataformas midiáticas mais interessantes e mais utilizadas dos tempos recentes: os videogames.

Logo, não deve ser surpresa aos fãs do estilo musical – e nem para os fãs de videogame – que o rap e o hip-hop tem sido presença constante num fenômeno recente, que são os shows feitos dentro de jogos eletrônicos. Algo que poderia ser visto como uma mera tangência a partir da presença de rádios de hip-hop em jogos como GTA, é algo que hoje pode se tornar um elemento marcante dos novos desenvolvimentos do mundo da mídia.

O rap nos videogames não é algo novo

A interseção entre videogames e rap é de longa data. Já em 1995, temos o precursor de algo que seria um elemento comum da interseção entre os jogos e os artistas de hip-hop: a presença dos últimos como personagens de jogos como “Rap Jam: Volume One”.

Rap Jam: Volume 1 (SNES) Playthrough Rap Jam: Volume 1 (SNES) Playthrough

Rap Jam foi lançado em 1995, já no fim da era Super Nintendo. O game era um jogo de basquete no estilo NBA Jam, que fugia do estilo tradicional dos jogos do esporte ao colocar jogadores um contra o outro dentro da zona do “garrafão”, onde se encontra a cesta. Em Rap Jam, era possível jogar com grandes artistas do estilo como Coolio, LL Cool J e Queen Latifah.

Quase 10 anos depois, veio o “estouro” da mistura entre rap e videogames que mostrava que esse era um caminho sem volta para ambos os elementos culturais. Os jogos da série Def Jam, que colocavam rappers contra rappers em um jogo de luta que misturava o wrestling da WWE com jogos de luta mais tradicionais como Street Fighter, foram o ponto mais alto dessa “era de ouro”.

Enquanto hoje a interação entre rap e videogames já não é mais algo espantoso, ela ainda pode causar grandes impactos. O mais notável foi a realização de um show do rapper Travis Scott, mais famoso pelo gigantesco sucesso do seu segundo álbum, Astroworld, no jogo de battle royale Fortnite. Algo que foi visto inicialmente como uma mera tentativa de demonstrar a força cultural que Travis e o jogo em si alcançaram em tempos recentes graças à sua popularidade, ficou ainda maior quando outros artistas fizeram apresentações no “mundo” de Fortnite.

Travis Scott foi seguido pelo produtor musical Diplo, famoso por suas colaborações com artistas do hip-hop e do mundo pop no mundo inteiro, incluindo artistas brasileiros como Anitta e Pabllo Vittar. E mais recentemente, Fortnite anunciou uma série de shows a serem realizados nos “palcos virtuais” do jogo, com o rapper Dominic Fike – famoso por fazer parte do clipe da música “Lockdown”, de Anderson .Paak, que foi indicada ao Grammy este ano – fazendo uma apresentação em setembro deste ano.

Interações e interseções culturais inspiram e evoluem as artes

Em qualquer ambiente, existirá os “puristas” que não aprovam muito este tipo de interação entre elementos culturais por eles terem o potencial de tirar o foco do artista em refinar aquilo que ele já domina. Entretanto o que se vê é a cultura como um todo acaba ganhando – e muito – a partir destas uniões, que são algo que ocorrem há muito mais tempo do que se imagina.

Sem a música, pode-se argumentar que o cinema não teria pernas para se sustentar uma vez que os filmes mudos ainda necessitavam de uma trilha sonora – muitas vezes performada ao vivo por uma orquestra – para manter a atenção e ganhar o fascínio do público. E os filmes que tratam sobre o mundo da música, como a famigerada comédia Isto É Spinal Tap, são alguns dos maiores clássicos que existem no ramo cinematográfico. O mundo da música é também grande fonte de inspiração para jogos de cassino online, o que inclui os jogos de caça-níqueis do famoso guitarrista Jimi Hendrix, e a banda de rock Guns ‘n Roses. Estes cassinos e seus jogos de cartas, como o blackjack e o pôquer, acabam se tornando inspirações para o mundo cinematográfico também pela produção de obras como Se Beber, Não Case. E em tempos mais recentes, vimos uma mistura que antes poderia ser vista como altamente inusitada mas que deu muito certo como elemento cultural e sucesso financeiro: o musical Hamilton, que conta a história de Alexandre Hamilton – um dos “pais fundadores” dos Estados Unidos – através do hip-hop.

Assim as interseções culturais que há séculos poderiam ser vistas como um fenômeno isolado, ou como um mero complemento de um elemento cultural em outro, torna-se algo vital para a produção cultural como um todo. Algo que demonstra como a cultura é algo fascinantemente maleável, e pronta para ser adaptada às mais diversas circunstâncias.

“Crossovers”

Observar o mundo da mídia em tempos recentes faz ficar muito claro que houve um incremento na interação e na interseção cultural entre os elementos artísticos que se encontram à nossa volta. E não é difícil também associar essas interações e interseções à elementos de “oferta” e “demanda” por parte de artistas e de fãs.

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Ainda que seja da vontade do artista expandir seus horizontes e chegar a novos ramos através de sua experiência dentro de um estilo artístico, este não é um trabalho fácil a partir do momento que exige o aprendizado de novas habilidades, assim como a tentativa de manter e trazer seus fãs para estes novos trabalhos. Algo que falharia desde o esboço de quaisquer planos neste meio se não fosse justamente pela demanda por parte dos fãs que seus artistas preferidos expandam seus horizontes para outros elementos culturais.

Esse comportamento afeta até mesmo os tais “crossovers” dentro de uma mesma mídia. Filmes como os da série Vingadores e da Liga da Justiça são bem-sucedidos não só por grandes orçamentos que permitem vultuosos gastos em marketing, mas também porque os fãs querem ver a “mistura” nas telas. Algo que se bem feito, gera um grande sucesso em recepção de crítica e principalmente dos fãs.

Assim foi com o show de Travis Scott em Fortnite, que abriu as portas dos videogames para se tornarem locais de realização de shows e de festivais de grandes artistas. Um caminho que talvez não tenha mais volta, uma vez que os artistas do presente são também os “gamers” que sonharam em realizar tais feitos em tempos atuais