Confira entrevista exclusiva com o rapper RT Mallone

O rapper contou ao Jornal do Rap um pouco sobre o novo álbum ‘Kipembe’, que…

O rapper contou ao Jornal do Rap um pouco sobre o novo álbum ‘Kipembe’, que tem participações como Sant, Bivolt e Chris MC

Buscando afirmação na cena do rap brasileiro, o rapper RT Mallone lançou, no dia 10 de dezembro, o álbum ‘Kipembe’, que mostra as fragilidades e reflexões do artista na busca por dar certo, apresentando os dois lados de uma balança entre tempo x dinheiro. Com as participações de Negus, ONNiKA, Sant, Victor Xamã, Bivolt, Aísha, BRK Mallone, Muxima e Chris MC, o álbum com 12 faixas fecha uma primeira trilogia na carreira do artistas, e é a partir desse projeto, que ele pretende alçar novos vôos e experimentar novos estilos nos próximos projetos.

O lançamento do projeto foi feito pela Artefato, com produção executiva de Negus, produção artística de Janaina Lopes e RT Mallone, A&R por AleMenezes e está disponível nas principais plataformas de streaming.

Confira a entrevista exclusiva do RT Mallone para o Jornal do Rap:

JORNAL DO RAP – Como este álbum reflete seu novo momento de carreira?

RT Mallone – Esse álbum é um vislumbre de como a minha mente funcionou desde que entramos em quarentena, principalmente em 2021, que foi o ano em que decidi ficar em São Paulo. Todas as turbulências e reflexões que eu tive estão presentes em KIPEMBE e eu estou exatamente nesse ponto de entender que eu sempre tive um brilho próprio, que Deus me fez um astro. E agora me sinto pronto para mostrar isso para o mundo, sem deixar que a pressão de uma cidade grande, como São Paulo, ou as dificuldades de ser reconhecido no cenário musical, principalmente vindo de uma cidade fora do eixo, me influenciem mais.

JORNAL DO RAP – Como se deu a escolha dos feats e qual sua relação artística e pessoal com cada um dos artistas envolvidos?

RT Mallone – Todas as participações do álbum são compostas por amigos de carreira ou ídolos, que se tornaram amigos, como é o caso do Sant, Bivolt e até mesmo o Negus, que hoje é meu empresário/sócio e irmão mais velho. Tudo foi feito de uma forma leve, passando de uma ideia sobre o tema que eu queria abordar nas músicas, que surgiram no estúdio do zero. Como todo o álbum era sobre a minha fase atual, eu estava ciente que nada que eu escrevesse naquele período fugiria do que eu queria, ou melhor, do que eu precisava passar.

JORNAL DO RAP – Que mensagem quis passar com o álbum, desde a produção musical, à estética e composições?

RT Mallone – Eu quis passar densidade, turbulência, mas mesclando tudo isso com maturidade e coragem. Queria que fosse algo que desse pra sentir além de ouvir, queria inspirar pessoas e ajudá-las a entender que o tempo não pode ser menos importante do que o dinheiro, mesmo que o dinheiro pra nós, pretos e periféricos, nunca possa ser desprezado. Queria encorajar pessoas a encontrar sua própria luz de novo e dar continuidade ao trabalho feito com o single “Tempo de Deus”. Acho que todo mundo saiu meio ofuscado nesses últimos dois anos, e meu prazer é ver pessoas boas brilhando.

JORNAL DO RAP – Qual sua relação com a ancestralidade africana, e como suas pesquisas pessoais influenciaram no desenvolvimento do álbum?

RT Mallone – Eu sempre fui uma pessoa de busca, de ouvir e de acreditar no que sinto. Acredito que meu trabalho é uma continuação dos ensinamentos dos que vieram antes de mim, de alguma forma. Eu tenho minhas crenças próprias e pessoais baseadas nas coisas que sinto, e me sinto abençoado por estar sempre cercado de seres de luz como o Muxima, que basicamente me deu o título do álbum com uma cantiga de terreiro que ele canta desde criança: “Eu vou vencer porque eu sou filho de angola” dizia a letra em Kimbundo, que ele cantou com tanta leveza e brilho sentado no sofá do meu lado numa tarde qualquer. Impossível eu não sentir aquilo e trazer pra mim e agora pro mundo.

JORNAL DO RAP – Podemos esperar material visual deste álbum, videoclipes com alguns dos feats?

RT Mallone – Com certeza! Estamos preparando mais material visual e quero trazer estéticas novas, diferentes do último álbum, trabalhar com pessoas novas também a fim de chegar nesse lugar que ainda só está no meu imaginário. Vai ser muito rico pra mim e pra Juiz de Fora me ver ao lado de nomes tão consagrados do Rap Nacional. Inclusive, já temos material gravado para sair em breve, não necessariamente um videoclipe, mas algo que agregará muito no entendimento do processo criativo e da mensagem por trás de todo álbum.

JORNAL DO RAP – Como você se vê após passar pela pandemia, e ainda criar um álbum tão grandioso quanto este? Quais foram os maiores desafios e aprendizados do período?

RT Mallone – Eu experimentei coisas que nunca tinha passado na vida antes no processo desse álbum, como solidão, um quadro agudo de depressão, que já vinha se arrastando e eu tentei esconder de mim mesmo por muitas vezes, flertes com alcoolismo decorrente desse quadro, mas também uma euforia genuína de quem vê seus sonhos diante dos seus olhos e uma esperança tão grande de que esse era o meu momento. Foi muito difícil dosar esses picos. Além da falta de shows e por conta da quarentena, que me prendia em casa, logo eu que sempre fui da rua, do rolê e da noite. Esse álbum veio da dificuldade como todos os outros, mas eu fico feliz de não ter escondido nenhum desses sentimentos e de ter me exposto de forma tão sincera. Como diz Emicida: “Odeio vender algo que é tão meu, mas se alguém vai ganhar grana com essa p*r*a, então que seja eu!”

JORNAL DO RAP – Qual a expectativa para uma turnê deste álbum em 2022?

RT Mallone – GIGANTE! Agora que voltamos oficialmente aos palcos, eu nunca mais quero ter que ficar tanto tempo longe. Eu amo cantar! Alguns artistas se sentem melhor no estúdio, mas eu comecei no palco, com mais de 5 mil pessoas no meu primeiro show com 10 anos de idade. De lá pra cá eu sempre soube onde era meu lugar e quero poder rodar com esse álbum, levar o show completo dele pra lugares que ainda não pude ir como Brasília, Curitiba, Salvador, e até mesmo o Rio de Janeiro, que sempre foi perto pra mim que sou de Juiz de Fora, mas só agora eu tenho um público grande em cada um desses lugares. Então, espero que as pessoas já estejam preparadas porque estaremos chegando na cidade delas em breve! rs

SOBRE RT Mallone

RT Mallone natural de Juiz de Fora-MG vem desenvolvendo seu trabalho solo desde 2013, abordando a realidade periférica, a autoestima negra e vivências pessoais sentidas na pele, trazendo assim o Hip Hop de volta as suas raízes com um trabalho bem atual. Do balcão da padaria em “Vendedor de Sonhos” até o reinado no álbum “Roho Tahir” o rapper tem uma trajetória inspiradora, considerado um dos maiores nomes da cena nacional. A carreira do artista é repleta de conquistas dentro e fora da música, sendo um dos homenageados pela Câmara Municipal de Juiz de Fora com a medalha Nelson Silva, honraria dada a pessoas que se destacaram na produção, apoio e difusão de manifestações sociais e culturais da raça negra. Além dessa honraria, RT Mallone recebeu o Troféu Resistência na categoria música, reconhecimento dado a artistas e personalidades negras de Juiz de Fora. Em 2021, lançou o álbum Kipembe, com participações de grandes nomes do Rap Nacional, como Sant, Bivolt, Chris MC, entre outros.

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