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Há 5 anos, o Mundo Perdida MF DOOM, Ícone do Rap Alternativo e do Underground

MF DOOM: Relembrando a Jornada e o Legado Enigmático do ‘Rapper Favorito dos Rappers’ No…

MF DOOM: Relembrando a Jornada e o Legado Enigmático do ‘Rapper Favorito dos Rappers’

No dia 31 de dezembro de 2020, o mundo foi surpreendido com a notícia da morte do lendário rapper e produtor MF DOOM. Contudo, uma mensagem compartilhada pela esposa, Jasmine, nas redes sociais do artista, revelou que o falecimento de Daniel Dumile, o homem por trás da máscara de metal, ocorreu em 31 de outubro, aos 49 anos.

A causa da morte de Dumile ainda não foi divulgada, o que mantém os momentos finais do rapper sob o mesmo véu de mistério que marcou sua jornada no mundo do rap.

O Artista Enigmático e Sua Genialidade Única

MF DOOM é uma figura singular no Hip-Hop. Conhecido tanto por sua genialidade artística quanto por sua personalidade enigmática, o MC e produtor nascido em Londres e radicado em Nova York criou um mundo meticuloso e único. Por trás da privacidade garantida por sua simbólica máscara de metal, ele atraiu um enorme culto de fãs.

Seu universo lírico é infestado de vilões, ficção científica, metafísica e referências tiradas de histórias em quadrinhos. Musicalmente, ele construía corpos musicais meticulosamente elaborados, misturados a colagens sonoras dançantes nada óbvias, utilizando como artifícios: jogos de palavras, vinhetas de anúncios televisivos, filmes, e clássicos obscuros do Jazz e da Soul Music. Sua habilidade lírica e flow complexo eram inigualáveis, com referências à cultura pop aliadas a uma complexidade nas rimas e métricas raramente vistas na cultura Hip-Hop.

Raros são os casos em que uma persona visualmente instigante encontra paralelo com uma mente artisticamente intrigante. MF DOOM conseguiu isso como poucos.

A Essência: Arte Acima de Tudo

Um nome essencial para qualquer fã de rap, MF DOOM é frequentemente chamado de “o rapper favorito do seu rapper favorito” devido à sua habilidade única e dedicação à arte do rap. Ele prosperou no cenário underground, sendo extremamente prolífico tanto em seus próprios lançamentos quanto em suas centenas de colaborações.

O artista nunca se importou com aparência, status ou popularidade. Sua música não era feita para ser comercialmente fácil, e ele nunca comprometeu sua integridade artística. Foi um verdadeiro mestre do jogo, sempre fiel a si mesmo e à sua arte. Para MF DOOM, era sobre a arte — e apenas sobre a arte.

Infância, Religião e a Fagula do Hip Hop

Daniel Dumile nasceu na Inglaterra, mas cresceu em Long Island, Nova York, em um lar marcado por disciplina cultural e intelectual. Sua mãe, politizada e religiosa, incentivava os filhos a estudarem sobre cultura negra, história da África e Islã. A família adotou os princípios da Nação do Islã e, posteriormente, do grupo Ansaaru Allah, uma seita islâmica afro-americana que influenciou diretamente o imaginário lírico de Doom.

Sua aproximação com o hip-hop começou na infância, ouvindo rádio e participando de crews de graffiti e breakdance em Long Island. “Minha primeira experiência com o som que hoje chamamos de hip hop foi ouvindo rádio”, conta ele. Ele começou em uma crew de graffiti chamada KMD, de Freeport, que com o tempo focou na música.

O primeiro contato mais público de Daniel com o rap foi na faixa “Gas Face” (1990) do grupo 3rd Bass, a convite de MC Serch. A música, que se tornou um dos singles mais marcantes da Era de Ouro do hip hop, teve o conceito criado por Daniel, que na época usava o nome artístico Zev Love X.

A Tragédia e o Fim do KMD

O KMD assinou com a Elektra Records e lançou seu álbum de estreia, “Mr. Hood” (1991), que abordava questões raciais, religião e racismo, utilizando samples de Vila Sésamo. No entanto, o tom mudou radicalmente em 1993 com o segundo disco, “Black Bastards”. Dumile comentou que o álbum refletia o amadurecimento e as dificuldades da indústria musical.

A capa e as imagens controversas fizeram a gravadora Elektra engavetar o disco e romper com o grupo, por considerá-lo polêmico demais. “Black Bastards” foi pirateado e deu ao KMD um status de culto, sendo lançado oficialmente apenas em 2000.

Ainda em 1993, uma tragédia marcou o fim do grupo: DJ Subroc, irmão de Daniel e a outra metade criativa do KMD, foi atropelado fatalmente ao tentar atravessar a Long Island Expressway. Daniel, o mais velho, teve que assumir a responsabilidade e terminar o disco. Em homenagem ao irmão, no velório, Daniel tocou as músicas ainda não finalizadas de “Black Bastards” em um Boombox ao lado do caixão. Após a perda e o cancelamento do álbum, ele sumiu, reaparecendo mascarado em Atlanta em 1997.

O Renascimento como MF DOOM

O ressurgimento como MF DOOM foi um plano que Daniel vinha desenvolvendo desde a época do KMD. Após a tragédia, ele continuou a desenvolver o personagem até que o amigo Bobbito Garcia (da Fondle ‘Em Records) ouviu o material e se propôs a lançar. Em 1997, a Fondle ‘Em Records lançou o primeiro single de Doom, “Dead Bent”. O sucesso reacendeu o projeto, culminando no lançamento de “Operation: Doomsday” em 1999.

Foi nessa época que ele começou a esconder o rosto em público, inicialmente com uma meia-calça. Pouco depois, adotou a máscara metálica, inspirada no Doutor Destino da Marvel, que se tornou sua assinatura visual definitiva. A máscara simbolizava a rejeição ao foco na aparência e o desejo de valorizar a música acima da imagem. “O que eu fiz foi vir com a ideia de que não importa como eu pareço, não importa como o artista parece, importa o que ele soa. A máscara representa essa rebeldia contra vender o produto como um ser humano. É mais sobre o som.”, explicou o artista.

O Processo Criativo e as Referências

O processo criativo de MF DOOM era singular, começando pela batida que servia de inspiração para as letras. Ele evitava exageros na produção, buscando manter o som próximo do original e deixando espaço para a imaginação do ouvinte.

Suas referências vinham de programas de rádio antigos, colagens de áudio e estilos de produção dos anos 80, com fontes inúmeras como fitas VHS antigas, discos de vinil, rádios, filmes e comédias. Para a escrita, a principal referência de Daniel era, surpreendentemente, o escritor Bukowski. Ele buscava a autenticidade e a imprevisibilidade do escritor para construir suas rimas e métricas complexas.

As Variadas Personas

Para enriquecer suas narrativas, MF DOOM criou múltiplas personalidades:

  • MF DOOM: Inspirado no vilão dos quadrinhos Doutor Destino, representa um vilão muitas vezes incompreendido, que não se importa com a fama, mas sim com a arte e a mensagem.
  • Viktor Vaughn: O jovem rebelde, uma versão mais impulsiva e ousada. “Viktor é mais novo, tipo 18 ou 19 anos, acha que sabe tudo”, afirmava DOOM, usando-o para explorar temas experimentais.
  • King Geedorah: Inspirado no monstro de três cabeças dos filmes do Godzilla. “Geedorah não é nem da Terra, é um ser etéreo […] que transmite mensagens para DOOM.”