Romario Veloz, o rapper morto pela repressão no Chile

Romario Veloz,26 anos,era equatoriano, mas morava no Chile desde os 9 anos, cursava Engenharia e…

Romario Veloz,26 anos,era equatoriano, mas morava no Chile desde os 9 anos, cursava Engenharia e fazia Rap. Pai de uma filha, estava preocupado com o futuro do país que lhe acolheu e de sua pequena Maite de apenas 5 anos. No dia 20 de Outubro os grupos sociais de La Serena, ao norte de Santiago, convocaram uma manifestação. Romario atendeu à convocação, pegou sua mochila, junto com seus amigos foi à marcha.

Romario Veloz – Morto pela repressão no Chile

Antes de sair conversou com a mãe através de uma chamada de vídeo, foi a última vez que ela viu seu filho vivo. Rapper, freestyleiro, dançarino, Romário era muito conhecido na cidade. Sua perda foi sentida por todos.

A marcha começou na Avenida Aguirre. Centenas de pessoas desceram pela Rota 5 da Rodovia Panamericana, que corta o Chile e fizeram fila na direção do Plaza Serena, um shopping aberto.

A manifestação que ocorria antes do toque de recolher decretado pelas autoridades seguia pacífica. Ulises Cortés, um estudante de 19 anos, estava com Romario e conta como tudo aconteceu:

A marcha seguia muito pacífica, mas quando chegamos a um centro comercial apareceram os soldados. Alguns manifestantes começaram a xingá-los e de repente eles nos apontaram as armas. Veio os primeiros disparos, revidamos com pedras. Os disparos aumentaram e Romario foi atingido. Estávamos a mais de 100 metros, com pedras, eles atiraram com balas reais, conta Ulises.

Carlos Soto, um neurologista de 56 anos que também estava na manifestação, socorreu Romario e tenteou reanima-lo, mas o jovem não resistiu.

Ele perdia muito sangue, certamente a bala o atravessou. Tentamos reanimá-lo por sete a 10 minutos. A situação foi  assustadora, realmente muito triste, disse Soto.

O promotor de Coquimbo, Adrián, encarregado da investigação — junto com o promotor adjunto Germán Calquín—, deu uma declaração pouco clara: “Estão sendo revistas as circunstâncias de uma eventual agressão ilegítima que provoca, talvez, uma atenuante, ou talvez, uma responsabilidade atenuada das pessoas, e, efetivamente, a acusação mesma de que o disparo pode ter provocado uma morte lamentável de um cidadão”.

Funeral de Romario

O estudante e rapper Romario Veloz Cortez foi enterrado em 23 de outubro em Antofagasta. A transferência do corpo foi paga pelo consulado do Equador. A Assembleia Nacional fez um minuto de silêncio em sua homenagem.

O presidente Piñera admitiu que “em alguns casos as autoridades não respeitaram os protocolos” e prometu acabar com a “impunidade aos oficiais responsáveis”. Mas essas promessas não consolam Mery Cortez, mãe de Romario e sua pequena filha Maite.

“Como explico pra ela que o pai não vai voltar para cas.a? Como encontro palavras? Só peço a Deus justiça a Romario”, disse a mãe do jovem rapper morto pela repressão chilena

O Chile Despertou

Tudo começou em 18 de outubro com estudantes do ensino médio que se negavam a pagar o bilhete do metrô, dando origem à mais profunda crise social desde o retorno à democracia após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), que mudou a face do país e modificou por completo a agenda do direitista Sebastián Piñera e do Parlamento. O protesto foi realizado em um clima pacífico e festivo e se repetiu aos gritos de “O Chile despertou”, transformado em lema dos manifestantes.

Os protestos foram de alastrando e ganhando novas pautas. O congresso tentou aplacar aprovando um plebiscito para a convocação de uma Constituinte. Mas, não adiantou. Foi um despertar drástico para um país considerado um dos mais estáveis da América Latina e com um modelo econômico elogiado: 30 dias de protestos que resultaram em 22 mortos, 79 estações do metrô de Santiago atacadas – algumas completamente incendiadas – e quase 15.000 detidos no país.

Protesto no Chile

Violações de Direitos Humanos

Um relatório publicado pela Human Rights Watch no dia 26/11 contabilizou 442 constatações de crimes cometidos por policiais que incluem agressões, tratamento cruel, tortura, estupro, assassinatos e tentativas de assassinato.

Há centenas de relatórios preocupantes por uso excessivo de força nas ruas e abuso de pessoas detidas, incluindo espancamentos brutais e abuso sexual que deveriam ser prontamente investigados para garantir o acesso das vítimas à Justiça”, disse José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da Human Rights Watch.

O Ministério Público abriu inquéritos por abusos supostamente cometidos em 2.278 pessoas, e há 203 agentes de segurança implicados.

Referências:

Theclinic – O Jornal The Clinic tem traçcado o perfil das vítimas do estado nas manifestações chilenas. 

ElPais