Wesley Camilo - O “new R&B”

Quem são os artistas que estão reinventando o R&B no Brasil

O “new R&B” produzido por artistas brasileiros carregam diferentes influências e criam um novo espaço para a sonoridade

Apesar da produção brasileira de R&B trazer a impressão de nunca realmente ter prosperado em nosso país, de alguns anos pra cá é possível ver esse ritmo presente em cenas do underground brasileiro com mais força desde quando os próprios artistas abraçaram seus símbolos. O gênero sempre foi uma influência para os artistas, mas nunca havia sido considerado um ritmo brasileiro até o surgimento de nomes que passaram a defender o movimento e começaram a ser vistos como representantes da cena.

O movimento musical do R&B teve início no fim da década de 1940 nos Estados Unidos sob influência do jazz, do blues e de cantos melódicos e, desde então, faz parte da cultura norte-americana, sendo sustentado hoje por nomes como The Weeknd, Alicia Keys, Kalela e muitos outros.

A influência do R&B estadunidense sempre se fez presente na cultura musical brasileira, mesmo que esse gênero não tenha sido explicitamente citado na nossa produção musical. No Brasil, a história do uso do termo R&B pode ser considerada controversa. Assim como é feito com o termo “black music”, acostumou-se a empregar a expressão R&B para denominar, de modo genérico e estereotipado, toda e qualquer música feita por pessoas negras que carregasse uma sonoridade mais pop, como uma forma de a homogeneizar e diluir, retratando muitas vezes o racismo do nosso país.

Sobre o espaço para a sonoridade em terras brasileiras, Wesley Camilo entende que sempre foi bem aceito, mas a diferença é que agora, os artistas brasileiros que estão produzindo esse tipo de música carregam influências distintas que acabam transformando o som em algo novo. “A cultura do nosso país no final dos 80’s e início dos 90’s foi muito influenciada pela música norte-americana, não que agora não seja, mas hoje está mais globalizado, ou seja, a galera que cresceu nessa época, hoje é protagonista do cenário artístico em geral. Vejo que o espaço pra essa sonoridade sempre foi bem aceito, a diferença é que agora somos nós brasileiros fazendo, e o mais interessante é que com a carga de influências distintas que nós temos, o som acaba se transformando em algo novo que eu tenho muito prazer de fazer parte.” diz o artista.

O último single lançado de Wesley Camilo, “Espaço”, é um R&B love song que integra as 12 faixas do álbum “Presente”, com lançamento programado ainda para o segundo semestre de 2020 e representa bem o mix de sonoridades contrapondo com o R&B.

Alt Niss Foto: Jon Leão

Alt Niss Foto: Jon Leão

Já a cantora paulista Alt Niss apresenta um R&B mais íntegro. Nascida e criada na zona sul de São Paulo, Alt Niss (Eunice Santiago Albertini) começou a cantar e a compor influenciada pelos bailes de melodia frequentados pela mãe e pelos tios. Apesar de ter crescido em uma família de sambistas, foi o R&B que falou mais alto.“O R&B veio antes de tudo, eu só comecei a cantar por causa do R&B. Logo no início da minha adolescência eu achei no gênero uma profunda identificação e aí, de ouvir muitos e muitos artistas e músicas, eu aprendi a fazer tudo que eu sei”.

A artista, que integra o grupo Rimas & Melodias, diz ainda não acreditar que o mercado seja resistente à sonoridade. “Os artistas do mainstream que se identificam e possuem o gênero como referência têm trazido em seus trabalhos constantemente uma mistura do gênero com alguma coisa, como pagode, pop, funk, trap e mpb. O que acontece é que muita gente prefere não acreditar que é possível trazer a bandeira em primeiro plano. Mesmo assim tem muito artista fazendo sucesso com R&B por aí e, muitas vezes, sem abordar a nomenclatura”, explica a cantora.

Alt Niss e Wesley Camilo não são os únicos brasileiros a representar e levantar a bandeira do R&B. A cada dia mais nomes aparecem no cenário musical nacional. Entre eles está o novo duo carioca YOÚN.

YOÚN Foto: @mtvps

YOÚN Foto: @mtvps

Da Baixada Fluminense surge o projeto que une R&B, rap, jazz, soul, trap e os ritmos urbanos cariocas, criando uma ponte entre diversas sonoridades. Formado por Alisson Jazz e Gian Pedro, o duo busca sair do óbvio, mesmo quando apresentam temas românticos, como seu primeiro single, “Meu Grande Amor”. O último single lançado “Se Foi”, une harmonias vocais com o violino de GP e o violão e a guitarra de Alisson. Os meninos começaram sua formação musical na igreja e aperfeiçoaram tentando dialogar com desconhecidos como artistas de rua. Desde 2017, o duo se apresenta entre as estações de Nova Iguaçu e Central do Brasil na linha Japeri, uma das mais populares e caóticas do sistema de trens do Rio de Janeiro. Além disso, fazem parte do crescente movimento artístico que ocupa o metrô carioca.

A cena do rap e R&B no Rio de Janeiro é muito promissora. O músico e também carioca, Luccas Carlos, conhecido por seus refrãos românticos e melodias R&B é um dos artistas mais influentes da sua geração. Faz suave o trap melódico do coletivo de artistas “Pirâmide Perdida”, o qual faz parte com Akira Presidente, grupo Nectar Gang, BK e Sain.

Luccas Carlos Foto: @brunolbvidz

Luccas Carlos Foto: @brunolbvidz

O último lançamento do artista é o single “Não é uma Escolha”, faixa integrante do EP “Pra Quando Bater Saudade” – Luccas Carlos e Torres.