Painel artístico gigante nos leva para um “Cosmos Brincante” no CEU Perus

Painel artístico gigante nos leva para um “Cosmos Brincante” no CEU Perus

Pintado por Bonga Mac e com concept art de Tamires Santana, obra aborda a questão…

Pintado por Bonga Mac e com concept art de Tamires Santana, obra aborda a questão do universo e do brincar, transformando o sistema solar em um jogo de bolinha de gude

Em 25 de janeiro, São Paulo completa 469 anos, no entanto quem ganhou o presente foram os artistas urbanos, que utilizam do graffiti para ressignificar os espaços da cidade; ao produzir imagens que contam histórias, educam, despertam reflexões sobre problemas sociais, e muito mais. Isso porque, neste mês, o prefeito Ricardo Nunes aprovou um projeto de lei que reconhece o graffiti como “manifestação artística de valor cultural realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado”. A lei ainda institui o Programa Municipal de Fomento ao Graffiti, a fim de promover atividades de valorização dessa arte.

Dessa forma, a capital paulista não só seguirá com inúmeras artes presentes em praças, prédios e muros, em um verdadeiro museu a céu aberto, como poderá apresentar um aumento dessa manifestação artística, a qual chama a atenção de quem passa por ela. O painel gigantesco de 300 m2 do CEU Perus, em São Paulo, é um exemplo: nele é possível conferir uma arte chamativa, que nos parece imergir para uma viagem lúdica, em que os planetas são bolinhas de gude em um Cosmos Brincante. Este, inclusive, é o título da pintura feita pelo artista urbano Bonga Mac, com colaboração do artista Xyrox e do assistente de pintura Rubone, e concept art desenvolvido pela produtora cultural Tamires Santana. A obra foi uma das selecionadas pelo edital do MAR (Museu de Arte de Rua).

”Foi um trabalho em equipe, feito a várias mãos e estamos muito felizes com o resultado. Nos sentimos desafiados e gratos por ter concluído a obra. Foram várias pessoas envolvidas no processo, incluindo a equipe do CEU e do MAR”, afirma Bonga.

Segundo o artista urbano, a proposta do trabalho parte de uma discussão sobre o universo e sobre o brincar. “Ao criar o Cosmos Brincante, Tamires traz a ideia de como o universo é cíclico, retratando o sistema solar como um jogo de bolinha de gude. Trata-se de uma grande construção, no entanto semelhante a uma brincadeira de criança em sua simplicidade”, afirma. Para ele, o trabalho artístico propõe uma brincadeira com a nossa essência cósmica e, ao mesmo tempo, apresenta o universo da simplicidade presente nas periferias, na inocência da brincadeira das crianças.

A inspiração para o desenvolvimento do tema veio da questão de o CEU ser um espaço educativo e acolhedor de crianças e jovens. A partir daí, Tamires e Bonga concluíram que falar sobre infâncias e o brincar seria uma ótima ideia. “Nós tivemos algumas ideias que não se encaixavam muito com nosso gosto, até que chegamos à questão do cosmos, assunto sobre o qual falamos com frequência”, afirma a produtora.

No entanto, Tamires alerta que um dos principais objetivos da obra não é causar uma nostalgia de brincadeiras, como bolinha de gude, mas, sim, proporcionar um debate sobre a contribuição de cada um no coletivo (cosmos), como se fosse um jogo, onde cada jogador tem o poder de mudar o resultado. “Sempre ouvi dizer que o futuro está nas mãos da nova geração, porém tanto as interações sociais, quanto o planeta Terra pedem urgência no reestabelecimento do que compreendemos por vida coletiva. Portanto, associar um jogo de bolinha de gude com o cosmos é refletir sobre a nossa capacidade em fazer acontecer e, ao mesmo tempo, sermos parte de algo grandioso”, completa.

Produtora negra que cresceu com referências de territórios periféricos, Tamires confessa sentir uma grande satisfação ao poder contribuir com projetos como esse para a região de Perus. Ela espera que o painel movimente o imaginário de quem observá-lo, despertando alguma reação positiva. “Afinal, é um tipo de obra que mistura referências extraídas dos estudos da pedagogia e infâncias, espiritualidade, física quântica, coletividade e representatividade.

Já Bonga deseja que esse tipo de projeto aconteça cada vez mais nas periferias, onde a arte urbana se revela um verdadeiro presente para esses territórios. “Propostas de qualidade devem ir para os extremos das cidades. As periferias têm direito à cidade e a receber grandes obras e boas oportunidades, ainda mais porque a arte urbana é oriunda de culturas periféricas”, conclui.