Ângelo Canuto

Da Polícia ao Cárcere: Ângelo Canuto Expõe Ciclo de Violência, Injustiça e a Força da Ressocialização pela Arte

Em um relato profundo e sem rodeios, o palestrante, empresário e ator Ângelo Canuto detalhou…

Em um relato profundo e sem rodeios, o palestrante, empresário e ator Ângelo Canuto detalhou sua trajetória de vida, marcada pela convivência precoce com a violência, a experiência como policial, a entrada no crime organizado e a posterior busca pela ressocialização através da educação e da arte. A conversa ocorreu em um podcast transmitido pelo Spotify e YouTube, destacando-se como um testemunho sobre a complexidade da violência social no Brasil.

A Raiz da Violência na Infância

Nascido em 1973 em Goianá, Ângelo Canuto relata uma infância em extrema pobreza, marcada por traumas e pelo contato visual com corpos mortos decorrentes da violência e do tráfico, especialmente no campo de futebol, ponto de encontro da comunidade. Ele define a violência atual do país como uma “doença social profunda”.

Apesar de ter prestado concurso e ingressado no 2º Batalhão de Choque da polícia em 1993, a realidade das ruas e a falta de gestão e governança nas forças policiais – que Ângelo critica por ser a que mais mata e mais morre – criaram um ciclo vicioso.

O Sistema Prisional e a ‘Ideia’ do Crime Organizado

Após ser preso por extorsão mediante sequestro e tráfico, Ângelo foi condenado a 8 anos e meio, chegando a fugir antes de se entregar. Ele descreve a experiência no cárcere como um reflexo da desigualdade social e racial brasileira, com um tratamento violento e desumano reservado aos presos comuns, geralmente negros e pobres, contrastando com as regalias concedidas aos presos especiais.

Na sua análise, o crime organizado, a exemplo do PCC (Primeiro Comando da Capital), não é uma estrutura com um “dono específico”, mas sim uma “ideia” e uma organização baseada em poder coletivo, regras internas e responsabilidade. O respeito, segundo ele, é a base da sobrevivência e da liderança nesse sistema.

“A ignorância gera intolerância e que a educação foi o caminho para sua transformação pessoal.”

Ressocialização Pela Arte: O Legado de Dexter e MC Kevin

Após sua saída da prisão em 2018, Ângelo Canuto passou a atuar como empresário e mentor, utilizando a arte e o esporte como ferramentas de transformação social. Ele cita a parceria com o rapper Dexter, um exemplo de “autoressocialização” através da cultura e do esporte, e sua convivência próxima com MC Kevin.

Sobre Kevin, Ângelo relata a personalidade espontânea e o coração bom do artista, destacando o papel da mentoria no incentivo ao estudo e controle emocional do jovem. Ele reforça que o funk e a cultura periférica são uma indústria que movimenta milhares de pessoas e um agente de mudança social, combatendo a marginalização e oferecendo alternativas ao crime.

Em suas reflexões finais, Ângelo Canuto critica a desinformação e a alienação estratégica que impedem o progresso social e encoraja os jovens a evitarem o crime, alertando que a vida na criminalidade é uma ilusão com destino provável na cadeia ou na morte. Ele finaliza a entrevista anunciando um jogo beneficente em 20 de dezembro em Santo André para auxiliar crianças autistas, reforçando seu atual engajamento social.