A recente recomendação da Embaixada dos Estados Unidos para que seus cidadãos evitem Ceilândia e outras regiões periféricas do Distrito Federal devido a um “risco extremo” trouxe à tona a postura defensiva das autoridades locais. Parlamentares reagiram com protestos, estatísticas e coletivas de imprensa, mas a questão central da negligência governamental para com a região permanece sem resposta.

Ceilândia, cujo nome remete à Campanha de Erradicação de Invasões (CEI) dos anos 1970, nasceu de um processo de despejo e foi construída para abrigar a população removida das áreas centrais da capital. A cidade, que hoje representa resistência, arte, comércio e cultura popular, é vista nos gabinetes como exceção, problema ou “risco”.

A indignação com o alerta internacional, embora compreensível, contrasta com a aparente tolerância ao descaso interno. A matéria questiona por que a mesma fúria não é demonstrada quando há falta de pediatras, estrutura escolar precária ou UPAs superlotadas que afetam diretamente a população local.

A Ceilândia classificada como “perigosa” pela embaixada americana é a mesma que abriga a maior feira popular da capital, que vibra com cultura, samba, hip hop, literatura de cordel e grafite. É a cidade que contribui para o sustento de Brasília através de seus trabalhadores. O texto sugere que a indignação só surge quando o preconceito se manifesta externamente, revelando uma complacência com a desigualdade silenciosa.

A matéria conclui que rebater o estigma é uma atitude fácil, mas o desafio reside em manter um compromisso diário com a dignidade dos moradores. Afirma que o estigma prospera com a omissão e que o descaso interno, e não o olhar estrangeiro, é o que de fato marginaliza Ceilândia. A cidade é apresentada como um retrato da “Brasília real: negra, periférica, trabalhadora”, que muitos preferem manter oculta.