Foto créditos: Sergio Silva

“BLACK MACHINE”: Hamlet e Ofélia ganham vozes negras no Itaú Cultural | De 20/11 a 14/12

Trabalho tem dramaturgia de Dione Carlos, concepção de Eugênio Lima e Fernando Lufer, que está…

Trabalho tem dramaturgia de Dione Carlos, concepção de Eugênio Lima e Fernando Lufer, que está em cena com a atriz Marina Esteves; peça aborda temas como raça, necropolítica, masculinidade tóxica, dor e desejo.

espetáculo BLACK MACHINE chega ao Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, Bela Vista) no Dia da Consciência Negra, com sessões de 20 de novembro a 14 de dezembro de 2025. Buscando discutir o legado de Hamlet, de William Shakespeare, e sua influência até os dias de hoje, a obra propõe um encontro do personagem do dramaturgo inglês com a Ofélia de Heiner Muller, da obra Hamlet Machine (1972). A peça foi contemplada na 20ª edição do Prêmio Zé Renato – Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa e chega ao Itaú Cultural após passar por temporadas na Casa do Povo e na Casa Farofa em setembro último.

Com dramaturgia de Dione Carlos e concepção de Fernando Lufer e Eugênio Lima, o trabalho é dividido em duas partes. A ideia é promover um embate radical entre esses dois grandes cânones do teatro ocidental, aproveitando para confrontar temas como gênero, raça, necropolítica, masculinidade, dor e desejo.

E, para garantir o caráter atemporal da obra, os dois personagens centrais são pós-coloniais. Enquanto Hamlet é atravessado por vozes como as de Frantz Fanon, Jean-Michel Basquiat, Aimé Césaire e Mano Brown, Ofélia é inspirada por nomes como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Erykah Badu.

“A grande brincadeira de Black Machine é que, na verdade, os personagens clássicos estão tentando ser atores. Só que eles “incorporam” em corpos negros em pleno século 21 e nós estamos investigando quais seriam as implicações disso”, comenta Eugênio.

Sobre a encenação

Durante a encenação, que se alterna entre delírio, manifesto e performance, Ofélia desafia Hamlet a assumir outro papel. “Pensamos nisso porque há 400 anos ele só fala dele mesmo. Nesse ponto da narrativa, Fanon ganha mais destaque, desdizendo tudo o que foi dito antes”, explica Lima.

Por apresentar ao público um embate que atravessa eras, o diretor Eugênio Lima, define a peça como um experimento polifônico. Em meio a provocações filosóficas e referências políticas, os personagens expõem as ruínas do patriarcado enquanto constroem suas identidades.

Para os realizadores, a questão central é: será que todo mundo pode realmente se identificar com o dilema existencialista do Hamlet sobre a dor de estar vivo?

“Fato é que a população negra nem sempre é vista como ‘ser’ e, talvez, tudo que a gente mais queira seja poder não ser mesmo. Assim, abre-se um mundo de possibilidades. Não queremos nos limitar: por que uma mulher branca pode dizer que é apenas uma mulher e uma mulher negra sempre deve se definir como mulher negra? Da mesma forma, não quero fazer teatro negro, quero fazer teatro. O que quero? Parafraseando Sueli Carneiro, quero ser negro, sem ser somente negro, e tornar-me um ser humano pleno de possibilidades e oportunidades ”, defende Eugênio.

A montagem segue a estética do audiovisual expandindo, com destaque para a música constante e a presença de uma videografia projetada dividida em três telas em frequente diálogo com as dramaturgias sonora e textual. Em cena, Fernando Lufer e Marina Esteves performam seus textos flertando com a linguagem do spoken word em diversos momentos.

A montagem aposta em um visual afro-surrealista, mesclando passado, presente e futuro. Todos os tempos acontecem simultaneamente, expondo as feridas, evocando ancestralidades e construindo uma nova realidade.Sinopse

Em um embate radical com os cânones do teatro ocidental, Black Machine reinventa Hamlet e Ofélia numa peça pop. Ele é um Hamlet pós-colonial, atravessado por vozes de Frantz Fanon, Jean-Michel Basquiat, Aimé Césaire e Mano Brown. Ela é uma Ofélia insurgente, construída a partir de Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Erykah Badu.

Em um espaço entre o delírio, o manifesto e a performance, os dois personagens criam um “debate de gênero com pitadas de melodrama” confrontando, raça, necropolítica, masculinidade tóxica, dor e desejo — enquanto expõem as ruínas de um mundo reconstroem suas identidades em pleno palco.

 

Feita de estilhaços poéticos, provocações filosóficas e camadas de referências políticas, a peça é um experimento polifônico em que o clássico é atravessado pelo presente: da colonização à globalização, das dores íntimas à violência sistêmica. Hamlet e Ofélia se enfrentam, se provocam, se reinventam — e, ao fazer isso, expõem o mundo em que vivem.