No último sábado, 12 de dezembro, o resultado do Festival de Música da Educadora FM foi diferente das últimas 17ª edições, uma música do gênero musical rap como ganhadora do principal prêmio da competição, a categoria Melhor Música com Letra. A composição que retrata a regionalidade identitária de mulheres negras baianas foi escolhida entre as nove finalistas (com letra), no ano em que o festival recebeu o maior número de inscritos da história.

Esse prêmio me deu o gás que estava faltando para dar continuidade à minha carreira, porque eu já estava pensando em desistir. Foi o salário que eu não recebi por anos, e agora vai me dar condições práticas de seguir com a música e fazer um clipe para ela. E trazer para Seabra a representatividade de que é possível acessar algo assim, que não é difícil se inscrever como a gente acha, realmente foi o que valeu. Eu ainda não tomei dimensão do significado, mas talvez ano que vem com mais gente do rap se inscrevendo eu perceba que foi simbólico”.

A cerimônia de premiação teve o show de Mateus Aleluia para abrilhantar a noite, desta vez virtual, por conta da pandemia do coronavírus. Disputaram 14 músicas finalistas, dentre com letra e instrumentais, para prêmios em seis categorias. Este foi um ano excepcional para a grande premiação da música na Bahia, que recebeu 1.214 fonogramas inscritos por 962 candidatos.

Sobre a música:

Com produção musical de Calibre e Baruan Studio, a música composta em 2018 por Amanda Rosa e Deise Maria (de nome artístico Candace), carrega um beat agressivo mas com a levada baiana. O tema da faixa surge de um diálogo entre as Mcs, onde a soteropolitana Candace e a seabrense Amanda Rosa, compartilham das mesmas dores e prazeres, ainda que habitando regiões diferentes da Bahia. Apesar de ainda não lançada, “Oxe Não Se Bote” nasce como um grito de pertencimento para mulheres pretas baianas.

[Ouça “Oxe não se bote” neste link]

Através da geografia, arquitetura, gírias locais, comidas típicas e tom, as cantoras fazem analogia às experiências e peculiaridades locais que influenciam no molde da personalidade e características dessas mulheres. As expressões linguísticas escolhidas pelas compositoras e intérpretes podem até não permitir o entendimento de um público amplo, mas com certeza são simbólicas e pertencentes para o público baiano.

“O próprio refrão faz referência ao ditado popular nordestino “rapadura é doce , mas não é mole” que significa dizer que algo “é bom,mas não é fácil”. E isso fala muito sobre as pretas retadas da Bahia, descendentes de líderes de quilombos e articulações cangaceiras. O som é para que essas mulheres se vejam, sintam e ativem todos os campos sentimentais possíveis. É como dizemos no nordeste, “beiço de jegue não é arroz doce”, então não podemos deixar a peteca cair, porque é para frente que se anda”, reflete Candace.

Saiba mais sobre Amanda Rosa:

Amanda atualmente se prepara para lançar seu primeiro EP, intitulado “Trilogia A Filha Revolta”, narrativa a qual a música premiada faz parte. A cantora faz parte do Selo Nsabas (@selonsabas), uma marca de entretenimento que entrega cura através da arte e da música. Além disso, é atriz, poeta, cantora, MC, produtora cultural e artesã em Manga Rosa Espada (@mangarosaespada), de Seabra, Chapada Diamantina e vivencia a arte e cultura como profissão há pelo menos 7 anos. Na música integrou espaços como o Festival Latinidades-BSB, Festival Pretas no Poder na Casa Ninja, Ocupação Afrofuturista, Festival Panteras Negras Convida, Quintas Gregorianas e LAMA Underground Party. MC de batalha, já participou e foi premiada em algumas batalhas de freestyle, chegando também à seletiva estadual do Duelo de Mcs Nacional.